Uma das coisas que a idade nos ensina é que a imperfeição nos é inerente nas palavras que escrevemos, nas ações que empreendemos, nas ideias com que tentamos representar a realidade, nas instituiçoes que criamos, nos projetos que realizamos. Também, ao longo do tempo, fomos aprendendo que é porque aceitamos essa imperfeição que não desistimos dos nossos projetos. Se o mundo fosse perfeito que sentido teria a nossa vida? Quando estudava, a minha avó, anafabeta como a maior parte das mulheres nascidas no século XIX, com alguma preocupação de que pudesse apanhar uma raposa, dizia-me: - olha que eu nunca apanhei nenhuma!
Na vida é assim: é preciso meter as mãos na massa e, como diz o povo, quem tende e amassa tudo se lhe passa.
Gostaria de reafirmar que quando falo ou escrevo não é para dizer como as coisas são ou como deveriam ser mas tão só como eu as vejo. Esta é a minha base de entendimento e respeito para com os outros. Por isso, procuro que as propostas do meu projeto sejam fundamentas, claras, transparentes, sujeitas a críticas e alterações.
Desde o princípio, este blog - VILAR MAIOR, minha terra minha gente - estabeleceu um conjunto de objetivos entre os quais foi ganhando corpo o projeto 'Tornar Vilar Maior uma Aldeia Cultural'.
Temos eleições à porta e, venha quem vier, gostaria de ver compromissos escritos, concretos e específicos, com os eleitores para os próximos quatro anos.
O meu contributo é o já referido projeto que coloco à disposição dos candidatos.
Jornais Diários de Lisboa e Porto e jornais regionais fizeram reportagens e deram notícia
Para os que se queixavam que a Vila não se encontrava no mapa, de um dia para o outro, pelas piores razões, salta para as primeiras páginas dos jornais
A emigração para França está no seu auge. A Vila continua pobre: estrada de terra batida, sem água canalizada, sem saneamento, sem eletricidade, sem assistência médica. Os francos, (sempre se falava em francos velhos que ajudavam a construir imagens de milhões) cambiados para notas de quinhentos e de mil escudos, circulavam em abundância. Agosto e setembro, os meses de vacanças, era o tempo de ir a mercados e feiras, de fazer a compra do lameiro, da vinha, do Chão, da tapada, da veiga, que haviam de assegurar uma vida boa, quando a França acabasse. Sim, porque ninguém imaginava ficar por lá, porque, como diziam, ‘a França não vai durar para sempre ‘. As vacanças eram o tempo de mostrar a todos que a vida corria bem, que estavam a ser bem-sucedidos e, até, trocavam os ‘bôs dias e vá com Deus’ por ‘Bonjour! Coment ça va? - Ça va bien!’
Tempos de orgulho e vaidade. E, também, de agradecimento com esmolas fartas para a Festa. Das fitas roxas pendentes da imagem do Senhor dos Aflitos sobressaíam largas notas de quinhentos e de mil. Pelas dez horas da manhã do domingo de festa, no largo da capela do Sr. dos Aflitos, já com o palco ornamentado para a missa campal, o Sr. Carlos Freire procedia, em voz bem colocada e serena, à arrematação das ‘pernas’ do andor do Senhor dos Aflitos: perna direita da frente, perna esquerda da frente, perna direita da retaguarda, perna esquerda da retaguarda. Novamente, o mesmo para outro turno. Eram muitos os que queriam pagar a promessa (por terem chegado sãos e salvos a França, pela cura de uma doença, por um motivo que só o próprio sabia, por qualquer outro tormento ou aflição) e as arrematações estenderam- se a bandeiras e estandartes, a andores de outros santos, com destaque para o andor da Senhora de Fátima. Tudo para que a festa fosse rija.
Quando se falava de festa, era da festa do Divino Senhor dos Aflitos. O dia mais importante do ano era o domingo da festa, cheio de uma intensidade difícil de conter num só dia. Por isso, começava bem cedo: a alvorada com a banda de música de Loriga, do cimo da torre da Igreja, de trompas e trombetas voltadas para a povoação, executava de forma enérgica o despertar.
De imediato, o fogueteiro começava a desfiar a sequência de foguetes que os ajudantes lhe iam chegando: primeiro os mais fracos de resposta, depois os de tiro; seguiam- se os de canhão, primeiro os de resposta e depois os de tiro, por cerca de uma hora. Terminava, então, com a latada: muitas dúzias dispostas em fila numa geringonça feita para que, numa sequência curta, o som parecesse um troão único, tão forte como se, assim aos estoiros, quisessem abrir as portas do céu. Estava dado o sinal de que a festa ia ser rija. Aos de Aldeia da Ribeira, sempre a desafiarem- se, ficava entregue a mensagem - Nunca conseguirão fazer isto!
O ritual da festa é sempre o mesmo com a banda e os foguetes a marcar o compasso. Agora, um momento de acalmia para o pequeno-almoço. A seguir, umas pancadas no bombo chama os filarmónicos, espalhados pela praça e, postos em fila, ao sinal do maestro, inicia a marcha pelas ruas do povo. As mordomas, com os cestos de vime, à frente da banda, recolhem as oferendas para a quermesse. O som da música e o estralejar dos foguetes entusiasmam a garotada que caminha à frente da banda. As mulheres preparam o almoço e vestem os filhos com roupa festiva a estrear. Das portas abertas vem o cheiro dos guisados de borrego e do arroz doce. A recolha das oferendas está a terminar, a banda e acompanhamento passam frente à igreja da Misericórdia onde os fogueteiros atarefados, no largo, na companhia de alguns curiosos das artes pirotécnicas, preparam os foguetes para o final da procissão. Uma provável cana de foguete com resto de lume, vem do alto sobre o molho de foguetes que explodem e, por simpatia, estoira todo o arsenal da Casa do Sino onde estariam cerca de quinhentas dúzias. Agora não foi só Aldeia da Ribeira a ouvir mas todas as povoações vizinhas.
Uma enorme nuvem de fumo e poeira cobriu o ar, um intenso cheiro a pólvora espalhava-se em redor. Os olhos incrédulos encontravam no sítio da Igreja apenas um monte de pedras. As pessoas corriam, para um lado e para outro, à procura dos seus. Aos poucos, sossegavam uns e começava a ouvir-se o choro e os gritos daqueles a quem um ente querido fora atingido. A Festa tinha acabado ali.
Em vez da música e do troar dos foguetes, um silêncio pesado. Em vez do riso e da alegria, o pranto e a dor amassados em lágrimas. Em vez do Adeus ao Senhor dos Aflitos, o adeus aos que morreram.
A fé dos homens não foi abalada e a Misericórdia de Deus foi reconstruída.
A União de freguesias de Aldeia da Ribeira, Vilar Maior, Badamalos constitui um extenso território com uma área superior à de muitos concelhos do país, que vai da raia de Espanha até ao rio Côa, um território de planalto, de montes e vales serpenteado por ribeiras e ribeiros que se inclinam para o Côa, com uma história que, em boa parte, está escrita em pedra e, por não ter sido transcrita em papel, passará diretamente para o universo digital. Nada tem sido feito, para além do nome e do ato administrativo - UNIÃO - para construir a unidade dos povos e gentes que a constituem e de conhecer e explorar as suas potencialidades. Por mim, não o faço tanto quanto gostaria.
Nos finais de 2020, Natália Rodrigues, de Badamalos, publicou na sua página do Facebook, uma fotografia semelhante à que ilustra este post e fiquei cheio de curiosidade. Foi assim que, posteriormentete, entrei em contato com o João Afonso que me levou ao lugar onde pude observar o monumento. Neste mês de Agosto, em dia que percorri as praias fluviais do nosso rio Côa, antes de visitar a de Badamalos, desviei, logo à entrada da povoação, para o caminho para Valongo e, a cerca de 150 metros, meti numa rodeira à direita e, a cinquente metros, lá estava a lagareta.
A uma altitude de 770 metros ( 40°28′47″ N 6°58′50″ O), quase no cume do cabeço.Escavada numa rocha monolítica , em aproximada forma oval, com um ligeiro declive , na direção Sul , tendo nessa extremidade, rasgada uma abertura para um pio inferior cerca de 40 cm, escavado na mesma rocha de cor branca e grão grosso. O local, pequeno afloramento granítico, onde se encontra, é infértil, povoado de giestas e serviria de pasto para cabras e ovelhas ou, na falta de melhor terra arável, poderia servir para cultivo de centeio. A profundidade do lagar é irregular, crescendo em profundidade no sentido do pio. Esta lagareta é do mesmo tipo da que existe em Vilar Maior, dentro da propriedade contígua à povoação, como a de Badamalos, denominada Cerrado, no lugar dos Mortórios. As duas muito semelhantes, a de Vilar Maior com um perímetro maior mas de menor profundidade. O pio da de Vilar Maior com maior volumetria. Em ambos os casos, as funções seriam idênticas e, mais que ao serviço de quaisquer rituais religiosos, serviriam como lagares onde se pisavam as uvas cujo precioso líquido escorria para o pio e daí seria transportado para outro vasilhame. Num e noutro caso, estavam rodeadas de vinhas. A lagareta da Tapada Limpa, de que já tratámos neste blog, no lugar da Correia, ainda que diferente destas, teria idêntico uso, ainda que não exclusivo.
A vinha e o centeio, quer em Vilar Maior quer em Badamalos, ocupavam a maior área agricolável. O lagar estava para o vinho, como o lajedo da eira para o centeio. Que seria do homem destas terras sem o pão e o vinho?
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