Sexta-feira, 29 de Abril de 2022

Requiescat in pace, Quim Miguel

QM.jpgFaleceu dia 28 de abril, no hospital da Guarda, onde dera entrada dias antes, o nosso conterrâneo Quim Miguel que de algum tempo a esta parte residia no lar da Bismula.

Filho de Miguel Martins Duro e de Gracinda da Conceição Palos, uma família moradora no largo da Igreja matriz, numa casa baixa como eram todas as casas do Cimo da Vila. Todos os vilarmaiorenses têm uma história de vida interessante só por serem da Vila. A história de vida do Quim Miguel além de interessante é invulgar. Fosse eu um conversador e contador de histórias como ele e não me faltasse tempo e talento e até Tchekov havia ficar roído de inveja. Vivia a vida intensamente, quando rapaz era capaz de, ao som da concertina, beber uns copos e cantar à desgarrada. Foi como todos para França, ganhou, poupou mas não era a terra dos seus sonhos. Ia e vinha, cada vez ia menos até deixar de ir. Se lhe déssemos cavaco, tínhamos conversa por largo tempo. Uma manhã de primavera, na ponte sobre o Cesarão, despejou o saco. E no saco estava a realização do seu sonho maior - construir um ‘chateau’, uma casa tipo ‘maison’ com ‘fenêtres’ e tudo. Aquilo que pensei ser uma coisa impossível ele tornou- a realidade e motivo da maior discórdia dos gostos arquitetónicos de forasteiros e residentes, responsabilizando o seu proprietário por uma construção tão incomum. Eu, apenas lembrava aos que o apoucavam que ele tudo fizera à vista de todos com licenças e licenciamentos das autoridades competentes. Sobre o assunto, a minha mãe em quem muito do seu saber andava embrulhado em versos, disse-me:
Quem fez sua casa na praça
A muito se assujeitou
Uns dizem que ficou baixa
Outros que alta ficou.
Ninguém como o Quim Miguel investiu em Vilar Maior. Bem, mal? Bom, pelo menos o dinheiro dele ficou por aqui, não o podem acusar de ter contribuído para o empobrecimento da região. Comprou terras, comprou gado, fez muros muitos muros. Como me contou teve uma má experiência como accionista da Torralta.
- Sabe? Ficaram-me com o dinheiro e até hoje ninguém me disse nada! Antes quero comprar um barroco e mijar-lhe em cima do que entregar o dinheiro a esses ladrões.
No fim dessa conversa tirámos uma selfie. Gostava de a publicar mas não à consegui encontrar. Caro Quim Miguel vou sentir a tua falta. Estou, ocasionalmente, na Vila e acompanhar-te-ei à última morada.
publicado por julmar às 18:26
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 20 de Abril de 2022

Vale Carapito, tornar Vilar Maior uma aldeia cultural

vale carapito.jpg

 Hoje, quinta-feira da Semana Santa, dia 14 abril, manhã de nevoeiro denso, desci o caminho da Fonte Velha, virei parao caminho das Entrevinhas no termo do qual à esquerda se encontra a imagem refrente ao lugar a visitar. Talvez o que neste outdoor  se mostra possa ser o princípio de um novo tempo para esta região. O Vale Carapito, qual pequena mesopotâmia, é um espaço que fica entre o rio Cesarão e a Ribeira de Alfaiates no fim do qual se abraçam e juntos se lançam ao rio Côa. Aqui, em baixo, rodeado de frescos lameiros, bordejados de freixos, tem como fundo sonoro a voz do Cesarão à qual se juntam as vozes dominantes do cuco e da pôpa e mais uma infinidade de clhilreares. E logo me dou conta que entro num território diferente onde a natureza protegida se mostra a quem ousar nela reparar. Uma imensidade de teias como roupa a corar pelo chão, pousadas nas giestas de maia branca e intenso odor, nos bracejos - teias feitas na noite para se desfazerem de dia e voltarema fazer-se quando a noite chegar.À medida que fomos subindo do caminho até o ponto mais alto foi-se dissipando o nevoiro e acentuou- se a aragem fria da Primavera
Caminhando em direção a sudoeste fomos depois descendo para a ribeira de Alfaiates cavada lá no fundo. No cimo do monte, llagedos enormes pregados ao chão  e, junto ao rio, grandes blocos verticais . Algumas partes do leito  atulhado de enormes pedregulhos soltos, num trabalho feito à pressa,  contrastam com a ordem escultural firme que a paciência do tempo gerou, com bacias enormes escavadas pelo redemoinho de águas e areias. Esta é a ordem do reino mineral. No reino vegetal, mais efémero, temos os amieiros e salgueiros no rio, os freixos em sítio mais enxuto mas com água abundante e para cima os carvalhos e o crescimento  rápido e recente das azinheiras. De arbustos, para além da giesta dominante, há , cada vez mais raras, as gilbardeiras ( aquele arbusto que servia para limpar as chaminés, para afastar os ratos, para varrer e para fazer os cabos das nossas canetas de aparo que molhávamos no tinteiro). 
A gilbardeira, o trovisco as roseiras de Santa Teresinha. Muito bracejo.
Um conselho - Não vá só! Ousei descer ao Insumidoiro, esse lugar mágico onde o rio desaparece por baixo de enormes penedias. Escarpa abrupta, rochas escorregadias, galhos secos, arbustos ocultando o chão são armadilhas, onde um pé em falso pode dar para o torto. Olho o telefone, nem sinal de rede! Há que subir - de gatas, de joelhos, de modo seguro, demore o que demorar. Finalmente, começam a aparecer os cagalhões dos sorraias - os cavalos - que não vi. 
Caminho até ao cume do monte, agora em direção a Nascente com o sol a bater-me nos olhos. Uma águia rasga os céus, grasnando para aoutra que a seguia, a caminho de Badamalos.
De regresso, com o castelo lá no alto, subo as Escaleirinhas com o basófias do Cesarão
de voz grossa no inverno  e sem pio no verão
É assim! Quem me quiser ver morto, tire-me a natureza. Ou o castelo!

castelo.jpg

publicado por julmar às 16:35
link | comentar | favorito

.Memórias de Vilar Maior, minha terra minha gente

.pesquisar

 

.Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
15
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


.posts recentes

. Vilar Maior, minha terra ...

. Família Silva Marques

. Emigração, Champigny-sur-...

. Para recordar - Confrater...

. Requiescat, Isabel da Cun...

. Em memória do ti Zé da Cr...

. Requiescat in pace, Fenan...

. Paisagem Zoológica da Vil...

. Gente da Minha terra (192...

. Requiescat in pace, José ...

.arquivos

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

. Setembro 2015

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Maio 2015

. Abril 2015

. Março 2015

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

. Abril 2007

. Março 2007

. Fevereiro 2007

. Janeiro 2007

. Dezembro 2006

. Novembro 2006

. Outubro 2006

. Setembro 2006

. Agosto 2006

.links

.participar

. participe, leia, divulgue, opine

blogs SAPO

.subscrever feeds