Daqui parti para o mundo. Daqui sempre foi ponto de partida para os que cá tiveram o seu berço. Foram para ´'Além-mar', o Ultramar do império colonial de África, da América e da Ásia. Na derrocada do Império, daqui partiram, quase todos, para a França na década de 60 do século XX. Daqui se espalharam pelo Portugal continental, sobretudo, por Lisboa. Ao longo do tempo sempre se partiu. Quase todos regressaram. Alguns por ventura ou desventura não. De resto, é assim a História de Portugal.
Aqui se construiu a fronteira de Alcanizes, muralha estendida, que nos havia de proteger da cobiça do Reino de Castela e permitir a aventura dos Descobrimentos. Daqui partiram soldados, para a guerra, pedreiros e outros ofícios, homens dispostos a fazer qualquer trabalho, criadas de servir, mangas de alpaca, marçanos em lojas da capital, comerciantes. E, também, missionários, padres, professores, advogados, médicos, enfermeiros, engenheiros.
Daqui, partiram produtos da terra: carne (vitelos, cabritos, borregos), centeio, vinho, batata, feijão, mel, lâ, linho, linhaça, peles, leite, queijo, ovos, brochas, vassouras de bracejo. Cornachos e outras coisas menores.
E com tudo isto ficavam sempre pobres as gentes. Não por causa da décima, das coimas, dos emolumentos, das congruas e dos bens de alma. É que as terras, sobretudo as melhores terras, não eram da gente que as trabalhava. Era preciso pagar a renda, em dinheiro ou centeio, das casas, dos palheiros e lameiros e em produto "as meias" ou "as terças" do que na terra cultivada colhiam. Senhorios que residiam fora, a maior parte deles em Lisboa, alguns deles que nunca pisaram o chão de Vilar Maior, fossem os Condes Teles da Silva e suas derivações, os Osórios da Fonseca, os Pessanhas, os proprietários locais, ou a Condessa de Bobadela ( que nos serve de exemplo) daqui levavam as rendas do suor, do sangue e das lágrimas das gentes que por cá ficavam. Por isso, aqui, as gentes pela nobreza da sua terra pagavam um alto preço e, ao contrário de terras vizinhas, os lavradores não passavam da cepa torta, sempre mal remediados.
E, para fundamentar o que aqui se diz, nada como o registo escrito e já publicado neste blog em 13-12-2021:
Registo de manifesto de hipotecas da administração do concelho do Sabugal (1843 - 1855)
Quem quiser reconstruir um pouco da história de Vilar Maior do século XIX, aqui poderá encontrar elementos de interesse: Registo de hipotecas, sendo as mais frequentes as feitas na sequência de empréstimos de dinheiro e respetivos juros. Vimos, por exemplo a saber, que a viscondessa de Bobadela era senhoria e proprietária da Quinta das Batoquinhas, como podemos ver pela transcrição do registo nº 35
Aos sete dias do mês de janeiro de 1855 pelas duas horas da tarde compareceu perante mim António de Barreiros e Neves escrivão da administração deste conselho de Vilar Maior José Ribeiro Leitão escrivão da Comarca municipal deste conselho, requerendo-me lhe vertesse na qualidade de procurador de José António da Silva da cidade de Viseu o alvará do teor seguinte: dona Ana Joaquina Maria do(??) Henriques Leitão Pina e Mello da Silveira Albuquerque (?) condessa de Bobadella viúva do conde do mesmo título Gomes Freire de Andrade e Castro. Pelo presente meu alvará de meu próprio punho feito e averiguado declaro que recebi do senhor José António da Silva da cidade de Viseu a totalidade e importância de todos os foros atrasados até o ano de 1854 pertencente à Quinta das Batoquinhas situada na Vila de Vilar Maior conselho da cidade da Guarda cuja quinta me pertence na qualidade de senhoria direta que sou da mesma e pela qual se paga do foro a pensão anual de 40 fanegas de centeio na forma de aforamentos a este respeito feitos pelos respetivos foreiros e bem assim recebi do mesmo senhor António Silva mais três anos adiantados os mesmos foros cujos devem vencer nos próximo futuros anos de 1855, 1856, e 1857 na mesma razão das nomeadas 40 fanegas de centeio anuais concedendo o mesmo senhor Silva para cobrança dos mesmos foros atrasados e dos mais três anos que me adiantou como acima de ele autorização para poder cobrar dos foreiros, caseiros ou possuidor da mencionada Quinta das Batoquinhas os foros e rendas atrasadas até que se achem completamente embolsado e satisfeito da importância e totalidade que me adiantou podendo fazer cumprir o pagamento judicialmente se tanto for mister e os respetivo rendeiros ou foreiros concedendo ao mesmo senhor Silva por este mesmo alvará procuração em causa própria com amplos e gerais tudo para o fim de ser embolsado dando-lhe também pleníssima e geral quitação da importância dos mesmos foros até ao futuro ano de 1857 e para sua defesa e a minha lembrança eu passei a presente que terá a forças do artigo quatro 162 da novíssima reforma judiciária. Lisboa 20 dezembro 1854, Condessa de Bobadela
Reconheço original supra"
Assinam José Ribeiro Leitão e António Barreiros e Neves
Parabéns à Associação Muralhas de Vilar Maior e a todos que se empenharam na divulgação da nossa terra e da nossa gente.
E para que conste memória futura,
https://www.facebook.com/beirao.vitoralmeida/videos/1467858307491311
Se tivesse de escolher uma fotografia da família, em que tive a boa ventura de nascer, seria esta. Apesar de lá não estar. Quer dizer, eu estava lá mas dentro do ventre da minha mãe. A fotografia foi tirada no primeiro domingo de setembro de 1950 e eu chegaria na noite do último dia desse ano. Além do pai e da mãe, do mais velho para o mais novo: o Manel, a Natália, a Beta, o Carlos e o João e o Júlio que está e não está. Haveriam de chegar mais dois, a Belita e o Zé Albino. Oito irmãos, constituindo agora a maior irmandade da Vila, todos na terceira idade. Todos Marques de nome de pai já que de nome de mãe, sendo a mesma, uns são Silva, outros Leonardo como lhe era dado. Mas porque o povo na sua soberania linguística, usava dizer Linardo, meu pai decidiu que fossem Silva.
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