Registo de Batismos de 1845 a 1860
No livro de registo dos batizados (Torre do Tombo) de 1845 a 1860 constam 377 assentos. Que informações podemos colher de um documento destes? Para isso convém saber qual a estrutura deste tipo de documento. Em primeiro lugar, o seu autor é sempre o pároco da freguesia que, neste caso é o padre Joze Ignacio de Faria, ilustre personagem da Vila e de quem noutro sítio falaremos. Em regra, é o próprio pároco que realiza o batismo mas pode ser realizado, sob sua licença, por outro clérigo. E temos sorte que o padre Joze Ignacio de Faria é uma pessoa diligente e cuidadosa com uma caligrafia facilmente legível, com as circunstâncias de, por vezes, se esquecer de molhar a pena no tinteiro e de nos vermos às aranhas para a decifração de uma ou outra palavra. São vários os párocos a quem ele autoriza fazer batizados – ao capelão da Misericórdia Vila de nome Florêncio José da Silva, a padres de familiares dos batizandos, aos párocos vizinhos (Aldeia da Ribeira, Badamalos, Malhada Sorda, Reboloza). Diz o documento o primeiro nome (e apenas o primeiro) do batizando que, quase sempre, vai ao nome dos pais, dos avós ou dos padrinhos. A maior parte são nomes comuns, no caso dos homens, por ordem decrescente: Joze (46); António (39); Manoel (20); Joaquim (19); Bernardo (16); João (14); Francisco (13); Júlio (6) e, menos comum, um tal Hipólito.
No caso das mulheres, surge, destacadamente, simplesmente, Maria (73); depois:
Izabel (17); Anna (11); Luiza (8); Joaquina (6); Justina (6). Alguns nomes menos comuns como Felicidade, Felizarda, Izadora (que, já no séc. XX, o povo abreviou para Gidória, a uma descendente chamada Maria Dias), Josefa, Jozefina, Brígida, Ignácia ou Henriqueta.
São mencionadas circunstâncias excecionais como as de que foi batizado sob condição de necessidade, de perigo de vida, solenemente ou particularmente, ou de haver dúvida sob ter ou não ter sido batizado.
Segue-se depois a filiação referindo o nome do pai e da mãe e a naturalidade dos mesmos, se se trata do primeiro ou segundo/terceiro matrimónio de algum dos cônjuges, se é filho legítimo ou de pai incógnito, se é mãe solteira (3), ou se os pais são solteiros (1).
No caso dos Expostos (23), não há, obviamente filiação, mas aporta-nos outro tipo de informações, como se descreve noutro local.
A naturalidade dos ascendentes aporta-nos um interessante conjunto de informações sobre a circulação de mulheres e homens e atrás deles todo o tipo de comércio. A Malhada Sorda aparece como a terra que mais trocas faz com a vila. Interessante também a quantidade de trocas entre a Quinta da Arrifana, como é designada à época, e Badamalos. As trocas fazem-se, desigualmente, com as terras vizinhas: Nave de Haver, Bismula, Batocas, Poço Velho, Carvalhal, Aldeia da Dona, Aldeia da Ponte, Alfaiate, Miuzela, Monteperobolso, Freineda, Jarmelo, Safurdão, Marmeleiro, Sabugal, Penamacor, Fundão. E, também, Allamedilla, em Espanha, Guarda, Porto. Certamente, por razões de honra, alguns viriam batizar os filhos a uma terra estranha e o padre Joze Ignácio não seria pessoa, conhecedor, por experiência própria, das fraquezas da carne, de recusar o sacramento, porta de acesso à salvação. Um dos assentos descreve pormenorizadamente a cerimónia do batismo de um adulto, que ele calcula ter vinte anos(de que noutro lugar daremos conhecimento).
Os nomes dos padrinhos é um outro dado importante. Para além dos laços de consanguinidade, a comunidade vivia dos laços de vizinhança e de patrocinato na construção de formas de cooperação na troca de trabalho e de produtos e no estabelecimento de formas mutuamente aceites de domínio/subordinação. Por vezes, ter um bom padrinho significava poder ganhar com regularidade o jornal, obter um favor, enfim, sentir alguma proteção. Por aqui, se repetia amiúde, “Quem tem bons padrinhos, não morre na prisão”. Em torno do patrocinato quantas histórias ouvimos contar, quantas outras, muito mais, nunca foram contadas!
O registo de batismo é o início da história de cada indivíduo que vem ao mundo. Para muitos foi a única história que sobre eles se escreveu que, para alguns deles, começou por ser uma história de abandono, como a de Maria Natividade:
Assento de Batizado de uma Exposta
«Aos vinte dias do mês de Dezembro de mil oitocentos e cinquenta e nove, o Revº Joaquim Sacadura, capelão desta freguesia baptizou particularmente a uma Exposta a que pus o nome de Maria da Natividade aparecida à porta de Domingos Fernandes desta freguesia que mora de traz da Misericórdia sendo exposta na noite de dezanove para o dia vinte, não trazia papel algum por onde constasse ter sido baptizada, no dia vinte e um do dito mez lhe pus os Santos óleos, trazendo de enxoval duas envoltas, uma touca, …, cinco cueiros, quatro camisas, duas toucas, …, uma liga e para constar por este assento era ut supra»
Reverendo Joze Ignacio de Faria»
VILAR MAIOR
Muita água!
Muita Fraga!
E muita giesta!
Vilar Maior! Badamalos! Arrifana!
Folha do Escabralhado e da Bismula!
Terras por onde o rio da minha alma corre!
O lugar do Pereiro!
E lá ao fundo cantando a Ribeira…
O cheiro a resina dos pinheiros…
A flor das giestas…
As maias!
O açude dos dos Gatas acima das poldras!
O moinho! As Veiga semeadas!
E ao passar ao bacelo do Carlos Freire,
A curva das cerejeiras…
A torre de menagem …
A flecha branca da igreja…
As alminhas…
O Pelourinho…
O paço dos Rebochos
A lenda da senhora dos cornos…
Vozes e passos indo e vindo no grande no casarão deserto…
Almas penadas do outro mundo…
E o Vento fazendo ranger as portas!
As noites frias!
A lareira acesa pela noite fora!
As bogalhadas!
Os caretos de Entrudo!
O toco! As janeiras!
As ceifas, as malhas!
Os bailaricos no terreiro!
A concertina do Zé Laranja …
Eternamente desafinada
(como se alguém se importasse!...)
a tocar no cima do povo!
A capela dos Senhor dos Aflitos!
A capelinha de S. Sebastião…
Carreirinhos abertos na erva das Hortas da Ribeira
Levando aos poiares de pesca!
Leiras de pimentos e feijões de estacada ao alto nas hortas
Ai a frescura da adega!
Ai o presunto dependurado do tecto
(guitarra portuguesa comida às fatias)
Com um copo de tinto a correr da pipa!
Ai pimentos curtidos na talha!
Ai queijinho fresco de cabra todos os dias!
E as resguardas da ponte…
Ai se aquela resguardas falassem!
Sob a nogueira ao portão do Manel
Os beijos dos namorados!
Ai nogueira que velha estás!
Ai casais de namorados, o que é feito de voz agora?
Ai Mocidade! Mocidade!
Quando o sonho comandava a vida!
A minha gaita-de-beiços
Comprada no mercado de Alfaiates!
Como me lembrais agora?
E a grande Amoreira
que havia no Curral grande do Simões
E a rusga aos ninhos?
E o rebusco às vinhas
à saída da escola?
E o Chico Bárbara passando à porta
a cavalo no seu boi preto
cumprimentando com um ´’olá menino Joãozinho’?
Ai! Ai! Ai!
Mil vezes ai!
Que a minha mocidade
há muito foi na enxurrada
da vida!
Agora…
É a Marta quem me diz
- Pai vamos apanhar as sardaniscas!
E eu…
Mocidade… Mocidade…
Pela mão dela,
Vou
à caça de sardaniscas
nos muros dos quintais…
Também
a cavalo no meu boi
preto!
João Valente Martins
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