Em homenagem ao senhor Antonio Lucrecio que oferecia os seus jornais, já lidos, às tremoceiras, que os transformava em cartuchos, maiores ou menores, consoante a verba investida.
E arte destas singelas, mas sapientes enriquecedoras da nossa gastronomia, passo a transcrever, com a devida vénia, um estudo, aliás completíssimo, publicado por Paulo Moreira, confrade de honra da Confraria do Bolo, com sede na histórica cidade de Pombal, in Revista Gastronomias.
Então, vejamos:
Conhecido em Portugal como o marisco do Povo, desde longa data que o tremoço marca presença na alimentação e cultura do Homem.
De acordo com alguns autores, os tremoços eram o alimento preferido dos filósofos gregos, principalmente dos cínicos, que andavam sempre com eles.
Conta-se que um pintor grego, Protógenes, do século quarto de antes de Cristo, trabalhou durante sete anos, numa pintura, comendo só tremoços, para que nada mais interferisse com o seu génio criativo.
E nas antigas comédias romanas, os tremoços eram utilizados em cena, para simbolizar o dinheiro.
Já os heróis e generais romanos costumavam oferecer tremoços ao povo em sinal de gratidão e era hábito os tremoços marcarem presença nas mesas mais refinadas.
Conseguimos perceber, apenas com recurso a estes pequenos e curiosos exemplos como os tremoços desempenharam efectivamente um papel preciosissimo na História do Homem e como grangearam grande reputação e prestígio em diversos domínios.
O tremoço tem muito mais do que aquilo que aparenta.
E essa é a sua grande virtude.
O nome ciêntífico do tremoço vulgar, aquele que geralmente comemos e é o mais difundido em Portugal é LUPINUS ALBUS LINEI. E este nome não deixa de ser curioso, pois LUPINUS deriva da palavra latina LUPUS – lobo, provavelmente devido às semelhanças entre as suas folhas e as pegadas de um lobo.
Já para alguns autores clássicos, como Plínio, tal devia-se ao facto de o tremoceiro ser uma planta voraz para a terra, tal como o lobo é para outros animais
No primeiro dicionário em Língua Portuguesa — Dictionarium Latino Lusitanicum Et Vice Versa Lusitanico Latinum –1570, de Jerónimo Cardoso, o vocábulo Lupinus tanto designa coisa de lobo ou loba como O TREMOÇO, embora o autor refira também a existência do vocábulo TRAMOÇO.
O tremoço é cultivado e subespontâneo nas searas, campos e lugares arenosos de Portugal, embora originário do Oriente,
A opinião mais consensual indica que eles são originários da bacia do Mediterrâneo, espalhando-se depois por todas as partes do Mundo.
Das várias espécies de tremoços que podem encontrar-se em Portugal, destaque para o tremoço amarelo, o tremoço azul, o tremoço de folhas estreitas e o tremoço hirsuto,
Nas terras bem irrigadas pelo Nilo, já se criavam tremoços e estes faziam parte da alimentação quotidiana no Antigo Egipto, tal como atestam vestígios arqueológicos, que remontam à décima segunda dinastia dos faraós, cerca de dois mil anos antes de Cristo.
Os egípcios, tal como os gregos, começaram a cultivar os tremoços com o objectivo de produzirem grãos para a sua alimentação e para alimentar os animais, sendo também utilizados em cosmética e medicina.
E foi a partir da bacia mediterrânica que os tremoços se expandiram em todas as direcções.
Também os romanos os cultivavam e através da extensão do seu império puderam levar o tremoço aos mais inóspitos confins,
Velhos companheiros de longas quimeras, os tremoços muito têm de contar.
Ainda há muito para descobrir sobre as suas propriedades e as suas qualidades.
Não há, por esse País fora, um adro de igreja que não tenha, nas manhãs domingueiras, uma vendedeira de tremoços para alegria da pequenada e desjejum dos mais velhos.
Uma coisa é certa, continuarão a fazer as nossas delícias nas tardes quentes de verão.
Gil Vicente, na Nau de Amores espicaçava o gosto:
«Quando dao pao e tremoços
Vinde à Pregaçao»
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