Terça-feira, 25 de Dezembro de 2012
O RIMANCE DA LOBA
O pastor já tinha sono
Tinha sono e não dormia
Por quelhas em abandono
Virem lobos pressentia
A Lua descia ao nono
O Setestrelo subia
A matilha junto ao dono
Deixá-lo dormir não queria
E entao o perro Mono
Esse latia,latia...
Entre giestas, na canhada,
Lobo cinzento aparecia
Com uma loba afilhada
P’la magreza bem se via
Atrás vinha a filharada
O bicho roga trazia
Qual assaltava a malhada
A lobeda discutia
Calhou á fera pelada
Que mais fera não havia
Os dentes facas de morte
As unhas de montaria
Vinham virados ao norte
Seu furor já se sentia
A loba, bafo de sorte
Alva borrega colhia
E sem que a presa lhe importe
Já com ela se sumia
A lobeda, igual reporte,
Uma a uma se servia
Abrir e fechar os olhos
Maior tempo não seria
O pastor, tristeza aos molhos
Sem borrregas já se via
Isto é que é vida de abrolhos
Minha mãe bem mo dizia
Terão os meua cães antolhos
E para os cães assobia
O cajado de refolhos
Por sobre todos erguia
Mesmo nos longes de Solhos
Sua voz bem se ouviria
Atrás, cães da loba
Eu só a Merina queria
Que já a tinha prá boda
Da minha filha Maria
Era a borrega mais fofa
Que por toda a Raia havia
Então a pele, alva toda,
Grande fortuna valia
Daria túnica goda
Prá neta que nasceria
Maldita. maldita loba
Os estragos que fazia
Os cães já bem longe vão
O pastor ameaçava
Amanhã em vez de pão
Ceareis de lenha brava
Se a loba caçardes, não,
Será trigo com coalhada.
À frente,vai o Leão
Por sobre as giestas saltava
Logo atrás o Farruscão
Pelos ferros se notava
Todos correm de roldão.
Nenhum se distanciava.
As borregas, uma a uma
O pastor recuperava
Faltava só negra bruma
Aquela que mais amava
Branca e gorda como espuma
A essa o lobo a levava
Já o Sol à Terra bruma
Já a manhã clareava
O Leão e o Cão dos Ferros
A corrida não cansava
Seus latidos, todos berros.
A loba já trespassavam
No cimeiro de três cerros
Ela pazes concitava
-Tomai a borrega, perros,
Tão boa e sã como estava
Não queremos só a merina
Da tua boca alobada
Queremos-te a ti, rez mofina
Na Igreja pendurada
Queremos pra samarra fina
A tua pele prateada
Pastor, a nossa menina
Há-de ter boda falada