Em 30 de Março de 2005 no meu extinto blog "O Pitagórico, a pergunta era:
Mais uma vez rumei caminho de Vilar Maior onde quase sempre passei a Páscoa. Tomei o IP5 que há-de ficar na história viária portuguesa como um progresso enorme dos que como eu, antes de existir, precisávamos de um dia de Inverno para chegar do Porto à aldeia: O Mini, primeiro, o Carocha, a seguir fizeram a velha estrada vezes sem conta com família e bagagens por curvas e contracurvas de olho nos buracos grandes que se abriam na estrada – quem não se lembra do que era atravessar S. João da Madeira, no tempo em que as estradas nacionais percorriam longitudinalmente aldeias, vilas e cidades? Os últimos dez quilómetros para chegar à aldeia eram feitos em terra batida, com o credo na boca não fosse aparecer algum sítio de difícil transposição. Mas a alegria antecipada de chegar ao lar quente da família ajudava a vencer toda a adversidade. A viagem de regresso complicava-se mais ainda porque era impensável para os pais que se partisse sem levar uma saca de batatas, uns litros de feijão, um resto de cebolas, um garrafão de vinho, mais o enchido, mais o queijo, mais isto, mais aquilo ... em bagageiras modestas para tanta generosidade que obrigava à colocação de grade no tejadilho. O Mini e o Carocha tradicionais concorriam na estrada com os recém chegados japoneses Toyotas e Datsuns, os Kadets da Opel, os 128 da Fiat, a Dyane da Citoen, a 4L da Renault, o Simca 1100, o Peugeot 2004 que de fracas cavalagens e de cilindradas a rondar os 1000 e 1200 constituíam o grosso dos veículos circulantes. Não havia cintos de segurança, não havia ABS, não havia Air-Bags, não havia Ar Condicionado, não havia limites de velocidade senão os que derivavam das máquinas circulantes e do estados das vias, não havia operações Páscoa da GNR e os acidentes eram raros. A bordo ouvia-se rádio quase sempre acompanhado de um fundo ruidoso ou, então, se provido da mais recente tecnologia de leitor de cartuchos, o Roberto Carlos, o Júlio Iglésias, o Carlos do Carmo, os Beatles, o Tom Jones ou outros consoante os gostos. Era no tempo em que a aldeia estava cheia de gente, de gente que conhecíamos e por quem nos interessávamos tanto quanto elas se interessavam por nós. Cumprimentávamo-nos todos de maneira pessoal e demorada. Já sabia que o ti Chico, positivo e bom como era, diria: - O sr. Dr está bom, está gordo! – no tempo em que ser gordo era uma boa notícia.
Depois veio o IP5 e com ele outros carros, outras músicas, outras vidas e mais mortes, e mais morte. Com o IP5, pelo IP5 (não por causa do IP5) mais gente veio para as metrópoles do litoral, menos gente ficou nas nossas aldeias.
O IP5 por onde vim já não é o mesmo. Está em extinção. Dentro em pouco teremos a sua duplicação, transformação em autoestrada. Com que efeitos para a minha aldeia, com que efeitos para as nossas aldeias?
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