Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013
"A verdade é que a igreja não ' condenou' Galileu Galilei por este ter acreditado na mobilidade da terra e na centralidade e imobilidade do sol como se diz".
Causou-me e causa-me perplexidade a defesa que o João pretende fazer desta tese. Com efeito, o que no documento da abjuração estã referido não é qualquer tese sobre a teoria da luz, qualquer tese sobre a natureza da alma mas apenas sobre o que de maneira clara nele está expresso. Também, se fosse como o João sustenta, não faria sentido ( para mim náo faz por outras razões) que o papa viesse pedir desculpa pelo erro cometido pela Igreja ao condenar Galileu. Todos sabemos que no século XVII a par da emancipação da razão e da criação do método experimental (com contributo relevante de Galileu), havia fortes correntes de misticismo que, muitas vezes não eram, mais do que a forma de responder a questões para as quais não havia resposta. Mas temos que distinguir os vários planos.
Quero, de qualquer modo, fazer uma declaração de interesse. Descartes ( que se recusou a publicar uma obra ' O Mundo', depois de ter conhecimento da condenação de Galileu) e Galileu são dois dos meus filósofos preferidos, filósofos que admiro cujas doutrinas, anos a fio, ensinei aos meus alunos. Galileu é simplesmente genial. Teve mais consequéncias científicas a viagem que ele fez à Lua, montado no telescópio feito por ele, do que a viagem feita pelos astronautas americanos. A invenção da experiência do plano inclinado é genial. Sobre O comportamento moral ( a abjuração) no julgamento ( bem diferente da atitude de Sócrates que, em tribunal, continuou a defender as suas ideias e foi condenado à morte), quem somos nós para julgar?
Carta de abjuração de Galileu (1633)
"Eu, Galileu Galilei, filho do finado Vincenzio Galilei de Florença, com setenta anos de idade, vindo pessoalmente ao julgamento e me ajoelhando diante de vós Eminentíssimos e Reverendíssimos Cardeais, Inquisidores Gerais da República Cristã Universal, contra a corrupção herética, tendo diante de meus olhos os Santos Evangelhos, que toco com minhas própria mãos, juro que sempre acreditei, e, com o auxílio de Deus, acreditarei no futuro, em tudo a que a Santa Igreja Católica e Apostólica de Roma sustenta, ensina e pratica. Mas como fui aconselhado, por este Ofício, a abandonar totalmente a falsa opinião que sustenta que o Sol é o centro do mundo e que é imóvel, e proibido de sustentar, defender ou ensinar a falsa doutrina de qualquer modo; e porque depois de saber que tal doutrina era repugnante diante das Sagradas Escrituras, escrevi e imprimi um livro, no qual trato da mesma e condenada doutrina, e acrescendo razões de grande força em apoio da mesma, sem chegar a nenhuma solução, tendo sido portanto suspeito de grave heresia; ou seja porque mantive e acreditei na opinião que diz que o Sol é o centro do mundo e está imóvel, e que a Terra não é o centro e se move, desejo retirar esta suspeição da mente de vossas Eminências e de qualquer Católico Cristão, que com razão era feita a meu respeito, e por isso, de coração e com verdadeira fé, abjuro, amaldiçoo e detesto os ditos erros e heresias e de uma maneira geral todo erro ou conceito contrário `a dita Santa Igreja; e juro não mais no futuro dizer ou asseverar qualquer coisa verbalmente ou por escrito que possa levantar suspeita semelhante sobre minha pessoa; mas que, se souber da existência de algum herege ou alguém suspeito de heresia, o denunciarei a este Santo Ofício, ou ao Inquisidor do lugar onde me encontrar. Juro ainda mais e prometo que satisfarei totalmente e observarei as penitências que me forem ou me sejam ditadas pelo Santo Ofício. Mas se acontecer que eu viole qualquer de minhas promessas, juramentos, e protestos (que Deus me defenda!) sujeito-me a todos os castigos que forem decretados e promulgados pelos cânones sagrados e outras determinações particulares e gerais contra crimes deste tipo. Assim, que Deus me ajude, bem como os Santos Evangelhos, os quais toco com as mãos, e eu, o acima chamado Galileu Galilei, abjuro, juro, prometo e me curvo como declarei; e em testemunho do mesmo, com minhas próprias mãos subscrevi a presente abjuração, que recitei palavra por palavra.”
Em Roma, no Convento de Minerva, 22 de Junho de 1633. Eu, Galileu Galilei abjurei como acima por minhas próprias mãos.
Prova de autenticidade do documetnto!... ;)
O último processo foi mais uma forma de deagravo pessoal entre Galileu e Urbano VIII, que se viu retratado no simplicio dos Diálogos de Galileu. E os processos foram requesitados por Napoleão e estiveram até 1843 em versailhes. Quem garante que todos os documentos são autenticos?
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