Sexta-feira, 20 de Setembro de 2013
Passa na rua o João Cerdeira. Leva aos ombro a saca de semente e à frente segue a burra em pêlo. Lá vai de chapéu a meia aba, calças arregaçadas pela canela e a resmungar: ahuumm, ahuumm, ahuumm… um surdo roncar que lhe sai do peito.
-Onde vais João?
-Vou-me a espalhar uns nabos…
Ai dele! É um pagador de promessas o João! As orações afloram-lhe aos lábios, e logo morrem! E ele faz aquele exercício de concentração: ahuumm, ahuumm ahuumm… qual monge busdista, ao passar na rua.
Lá vai tropeçando nas pedras da calçada, inseguro, curvado ao peso da saca; no ar o som das orações: E a minha mãe diz do cimo do balcão:
-Lá vai o João, semear os nabos dos vales!
Penso com os meus botões:
Quais nabos, qual carapuça! O João é um asceta!.. Cá para mim, não espalha nabos... semeia preces!