Domingo, 24 de Novembro de 2013
Arrifana do Coa e Batocas - Dois lugares onde choveram notas de conto durante a Segunda Grande Guerra
Aqueles dois povoados acham-se hoje integrados na União de Freguesias de Aldeia da Ribeira, Badamalos e Vilar Maior.
Historicamente, foram aqueles dois povoados registados no Código Administrativo como lugares anexos da própria Vila, o primeiro, e, osegundo, de Aldeia da Ribeira.
Hoje, chamamos aqui a atenção sobre ambos porque os seus babitantes no lustro 1939-1944 tiveram na exploração de minérios uma extraordinariamente volumosa fonte de rendimentos.
Por ali correram não pardaus como no Minho quinhentista de Sá de Miranda e Pedro Caminha, mas notas de conto, de mil escudos diremos nós para entendimento de quem nestes tempos do euro ande afastado daquela terminologia.
As pedras com que os pastores da Arrifana até, então, atiravam às cabras passaram a valer fortunas, porque eram volfrâmio do melhor. E as regueiras que os batoquenhos limpavam para as regas estavam repletas de estanho do mais puro quilate.
Ora, a Europa, então beligerante, sobretudo a Alemanha, porque a Inglaterra ainda podia abastecer-se nas suas colónias de África e da Ásia, tinham uma enorme necessidade daqueles minerais, qualquer deles essencial à indústria de guerra.
Portugal era neutral pelo que podia negociar tanto com o Eixo - pacto de Alemanha, Itália e Japão, - como com a Inglaterra e seus aliados.
Mas a nossa vizinha Espanha, já governada pelo General Franco, tinha uma dívida de gratidão e de divisas para com Hitler e Mussolini. Enviar-lhes minérios de guerra era uma forma de minorar a dívida e mostrar reconhecimento.
Empresários da área de Cidade de Rodrigo tinham instruções de comprar todo o estanho e volfrâmio produzido na Raia Sabugalense a preços superiores aos correntes no mercado. Os seus sócios ou agentes do nosso lado da fronterira o fariam depois chegar a Puebla, Carpio, Espeja, Fuente Guinaldo.
Eram às centenas os garguiros de Jorna e às dezenas as bestas ajoujadas sob os sacos que todas as noites saíam das povoações da segunda linha de fronteira, onde não havia postos fiscais, sendo também certo que as guarnições de Batocas ou Aldeia da Ponte, vigiadas homem a homem por guias e seus familiares não tinham elementos para obstar àquelas passagens.
Toda a Raia viveu então uma era de prosperidade, uns extraíndo os minérios, outros ganhando a jorna.
Os das Batocas podiam extrair o estanho durante o dia e levá-lo á noite para a central dos Campanários ou Ituero - nós dizíamos Fitoiro, aportuguesando o topónimo.
Os da Arrifana não tinham mãos a medir na extracção e porque o volfrâmio tinha preços muito mais elevados construíram uma aristocracia financeira. E, gente económica, estes ganhos ainda hoje, a mais de meio século de distância, evidenciam os arrifanos.
Rapazes à candonga
À candonga, pois então
Com o dinheiro da candonga
Eu já comprei um cordão
Enfim, como dizem os franceses: A quelque chose malheur est bon
Ou seja, dizemos nós: A desgraça de uns é a sorte de outros.