Quarta-feira, 30 de Abril de 2008

Miserere mei, domine! - apontamento

A Misericórdia foi, sem dúvida, a mais importante das instituições desde a sua fundação até aos nossos dias, pela participação que exigia ao nível da gestão, pelo dinheiro e bens que movimentava; pelo poder de atracção que exercia para além do limite da freguesia; pela solidariedade que prestava; pela solenidade dos actos litúrgicos que promovia; pela coligação entre a esfera sagrada e os interesses mundanos. Ela desempenhou actividade bancária e a actividade seguradora que não existia.

A sua presença material traduzia-se numa capela ampla com altar-mor e coro. Quem nela entra é induzido a uma atitude de recolhimento e meditação e as imagens( o Senhor dos Passos em genuflexão sobre o andor, cabeleira comprida, coroa de espinhos e de túnica roxa; Nossa Senhora das Dores ...) de dor e sofrimento dão ao crente a força para suportar as agruras “deste vale de lágrimas”. Contígua e a todo o comprimento da capela existe a casa dividida em duas: A ampla Sacristia que servia para reunião do provedor com os mesários que nas actas é muitas vezes designada como sala do Despacho; outra parte servia para arrumações e lugar onde se fazia a cobrança dos anuais quer em dinheiro, quer em centeio onde este era depositado em farta tulha. O campanário soava sempre que algum irmão da freguesia ou de fora falecia. Sempre que um irmão de fora falecia ia uma representação da misericórdia com a respectiva bandeira participar no funeral.

Durante todos os dias da quaresma, o terço era rezado na capela da misericórdia e “andavam-se as cruzes”, isto é, a via-sacra. O período quaresmal constituía o apogeu da liturgia cristã e era em torno da misericórdia que ocorria. De todos os actos o “Aniversário” era o que de maior solenidade se revestia, sendo proverbial que o valor do pregador se aquilatava pela capacidade de fazer chorar os devotos, recorrendo veementemente ao apelo ao arrependimento dos pecados e às penas a que as almas dos condenados se encontravam sujeitas. 

Quais as fontes de receita? Os juros de empréstimos, os anuais; as inscrições de irmãos, as rendas, as doações
Quais as despesas? A manutenção e funcionamento das instalações; os gastos com o funcionamento (encargos fixos – por exemplo a % do tesoureiro era quem escrevia ou quem cobrava? - ); os bens de alma; despesas funerárias, nomeadamente abertura das sepulturas e dos caixões; os actos litúrgicos, sobretudo da semana Santa e do Aniversário (pagamento aos cantores, aos clérigos, ao pároco, ao pregador e o almoço para todos incluído o provedor e os mesários); gastos com cera ...

Quem podia ou quem de facto era provedor?

Com que frequência se renovava a mesa?

Também na Irmandade nem todos eram iguais, nem todos tinham a mesma dignidade: A existência de lugares cativos na Igreja, nem todos podiam pegar na vara do pálio ...

A Irmandade da misericórdia constituía para a Igreja uma preciosa fonte de rendimentos. Ao contrário da escassez actual de sacerdotes, naquela altura dificilmente se encontrava lugar , nomeadamente, paróquias para todos. Ora, os bens de alma – a despesa principal da irmandade e o seu fim principal – que consistia em rezar missas para sufrágio das almas dos fiéis defuntos, proporcionava aos clérigos preciosa e segura fonte de rendimentos. E a lista dos clérigos a quem incumbiam o cumprimento era extensa e variada: havia clérigos dos arredores de Vilar Maior, da cidade da Guarda mas também de zonas mais longínquas como Portalegre  e Évora.

Aproveite e ouça o Requiem de Mozart. Para funeral, melhor é impossível!

Extraordinàrio!!!

http://www.youtube.com/watch?v=nl-wRbJoWVA

publicado por julmar às 20:11
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1 comentário:
De Manuel Maria a 2 de Maio de 2008 às 18:12
Miserere nobis... Domine!


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