«Bem aventurados os pobres porque deles é o reino dos céus»
Corria quente o estio,
quando o acontecimento se deu.
Filho de Lurdes Badana, mãe solteira
Que era filha de Maria Badana, mãe solteira
Que era filha de Rosalina, mãe casada
Com o honrado Alexandre Badana,
Moleiro de profissão de mós que não eram suas.
E aí é que o ponto batia:
À água incerta do Cesarão, nome de rio
E da maquia escassa que lhe competia
A renda certa tinha de pagar ao senhorio
E a mó num girar infindo
Misturando o seu ao som das águas
E o monte de farinha subindo
Com, crescendo, no coração, das mágoas
E nesta vida de desdita, de fome e privação
De fartura apenas tinha o corpo de Rosalina
Que de natureza tão fértil e fecunda
Toda a semente gerava criação
O moinho moía e a família crescia,
De forma tão desigual
Que a fome bateu à porta
De maneira bem natural
- Entre! , disse o Badana já sem o primeiro nome
E a fome entrou, cumprimentou todos
Com tão grande simpatia e acolhimento
Que a acompanharam para sempre
De geração em geração.
Todos a ela se sujeitaram,
Conhecedores da sua condição
E todos foram vivendo
Pelas portas a mendigar pão, por Deus.
E por Deus o iam tendo
…e, sobretudo, alguma consolação.
Mas o Alexandre não era moleiro
Herdara a pobreza, quando já não havia pobres
Sem companheiros de condição.
Só,
Atiravas pedras aos pássaros
E com pedras cortavas as águas paradas dos açudes
À pedrada colhias o fruto seco das nogueiras
À pedrada ensaiavas abrir a porta do destino
E anular a distância dos os outros
Mas todos te lembravam o teu lugar:
Sempre fora: da casa, da mesa, do jogo
Da taberna, da conversa … da vida.
De chegados tinhas os cães dos outros
E mais que todos, os cães vadios
E das cabras alheias que guardavas
Fizeste a tua família a quem deste identidade
Com nome de mulher. Lembras-te?
Da Francisca, da Irene, da Felisbela, da Maximina …
Subir ao impossível, fazer o difícil
Que as coisas normais te estavam interditas
Por isso dizias que tinhas o diabo no corpo
Porque todos o construíram em ti
E todos é muita gente,
Todos é força desmedida
E assim, não culpavas ninguém
E dizias o que há muito sentias,
«Eu tenho o diabo no corpo»
E repetias cada vez mais e com maior convicção
«Eu tenho o diabo no corpo»
… Mas ninguém te dava atenção
Davam-te roupa que já não lhes servia,
Davam-te o naco de pão e peguilho
Com condição que já sabias:
Comeres longe de suas senhorias
Assim te alimentavam o corpo que os servia
E, inocentemente, te envenenavam a alma
Esqueceram, esquecemos todos nós,
Que nem só de pão vive o homem
Mas da palavra de Deus ... e dos irmãos.
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