
O António partiu, desta vez não para a Retortas, não para os Labaços. Nas Retortas vi com os meus olhos uma horta que era uma autêntica obra de arte. Mais tarde foi para os Labaços de onde raramente descia à povoação. Esta fotografia foi da Páscoa do ano passado. ia a caminho dos Labaços. Tentei, na conversa, entender o seu modo de vida: desgosto por uma sociedade podre e por uma natureza que o homem inquina.
Requies in pace
De O Cota a 28 de Outubro de 2008 às 22:31
Estranho e controverso personagem este. Segundo sei, terá rumado a Lisboa ainda novo. Mais tarde demandou terras de França de onde regressou a Vilar Maior algumas décadas depois. E, pelos vistos, regressou mais pobre e desiludido do que à partida, já que os pais tinham falecido durante a sua ausência e, segundo consta, de bens materiais pouco mais trazia alem da roupa que vestia. Consta que era muito prestável, sempre disposto a ajudar nos trabalhos do campo a quem lhe pedisse. Porém, nunca a troco de dinheiro, o qual, desprezava e abominava, isto dito pelos que o conheciam bem. Aceitava, isso sim, roupas usadas ou bens alimentícios. E a prova do seu desprendimento pelos bens materiais, está patente no facto de, após lhe terem dotado a casa (que pertencera aos pais) com as comodidades essenciais, nela não quis permanecer optando por ir morar num casebre no sítio dos Labaços, a alguns quilómetros da vila, apenas descendo ao povoado para ajudar alguém nas lides do campo e, mais raramente, para aquisição de víveres, pois constava que a sua alimentação era feita à base de raízes e frutos silvestres. Um caso que daria um bom estudo para os peritos (psicólogos, sociólogos...) na matéria. Para quem não saiba, era filho do ti Diogo e da ti Pureza. Sim, aquela a quem em crianças comprávamos um cartuxo de chochos (tremoços) por um, dois, ou em dias especiais, cinco tostões. Paz à sua alma.
De Pedro Cardoso a 29 de Outubro de 2008 às 14:20
O Sr. Joaquim, tal como o Sr. António, foram duas personagens que marcaram a minha infância em Vilar Maior, sempre muito atarefados. O Sr. Joaquim a trás das vacas (que nos sujavam o campo de jogos - praça) ou a entregar o leite e o Sr. António com a saca de raízes às costas, que ele dizia serem um grande negócio.
A todos os seus familiares, as minhas sentidas condolências.
De Jarmeleiro a 29 de Outubro de 2008 às 19:35
Das pocas vezes que estive á fala com este homem deu-me a ideia de falar com munta amargura e alguma revolta lá dentro. E o que dezia era menos que aquilo que sabia e tinha vontade de dezer. A morte dele foi como se advinhava. Pareseque foi achado por um pastor prós lados do Carvalhal -munto longe dos labaços onde tinha o abrigo- já morto a alguns dias. Que Deus o tanha em descanso.
Misógeno, como o pré-socrático Diógenes, que viveu longe dos homens, dentro de uma barrica de vinho. Cavámos lado a lado o quintal, partilhámos uma o outra refeição e copo de vinho ( a única paga que aceitava por ser prestável). De algum modo partilhámos a fraternidade humana. Paz à sua alma tão sofrida!
De Katekero a 31 de Outubro de 2008 às 23:37
A morte não é a maior perda da vida.
A maior perda da vida é o que morre dentro de nós
enquanto vivemos.
(Pablo Picasso)
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