Prefácio
«Tu misturas de maneira impressionante, nos teus discursos, o véu, a foice e o trigo, e tens razão, já que as coisas estão todas ligadas umas às outras e no Senhor são apenas uma, mas nos nossos olhos estão bordadas no véu da multiplicidade”
Thomas Mann
Pudéssemos nós, com suficiente pormenor, contar a história de um lavrador, de um jornaleiro, de uma costureira, do homem que conserta os pratos, do empalhador de garrafões, do homem do ferro velho, do amola tesouras, do comprador de cornachos, do apanhador de batatas, do senhor reitor ou do triteiro e teríamos aprendido o viver desta comunidade rural, espelho de muitas outras. Porque conhecer uma comunidade pelos instrumentos que usa, pelas tarefas que executa, pelas relações sociais, pelos produtos que consome, cria, transforma ou troca não é, ainda, se não conhecermos exteriormente essa comunidade, como se conhece uma máquina. Se queremos ir mais além na sua compreensão, então, temos de captar-lhe a alma, o sentir e o sentimento. É preciso sabê-lo, como saber e como sabor. Não poderemos ficar no domínio das ações, apenas, mas teremos que passar ao reino das paixões, de todas aquelas afeções nascidas na alma e que têm no corpo o seu palco: a alegria, o amor, a admiração, a glória … e seus opostos. Não o saberíamos fazer da forma perfeita, que o mais certo é não existir. Por isso, o que oferecemos são memórias de pessoas e lugares, histórias … quase reais, em que nunca saberemos onde começa a realidade e acaba a ficção. Importante mesmo é que motivemos o querido leitor a puxar pela memória, pela sua memória para poder «contar a si mesmo a sua própria história». Porque como diz Maria Zambrano:
“Quem não sabe o que lhe acontece puxa pela memória para salvar a interpretação do seu conto, pois não é totalmente infeliz quem puder contar a si mesmo a sua própria história”
Um livro perfeito que nos diga tudo é um livro inútil. Esta é a boa razão que me levou ao atrevimento de poder apresentar-lhe este livro imperfeito, pedindo-lhe a si, leitor, que o corrija, cortando, acrescentando, discordando tanto quanto for necessário para «salvar a interpretação do seu conto». À medida que for lendo, contará a sua própria história reconstruindo a viagem que o levou até onde se encontra agora. Todos temos um paraíso perdido que é todo o tempo passado com tudo o que nele ficou marcado. A maior parte talvez tenha perdido o lugar onde nasceu, talvez uma aldeia como Vilar Maior, e, no meio de todas as casas, a casa onde nasceu. E essa ficou para sempre a ser A Casa. A casa que um dia teve de deixar. A casa está na nossa memória como a conhecemos. Morreram as pessoas que a habitavam. Um dia fechou-se para sempre … até que, ano após ano, o vento, a chuva e o sol pacientemente, persistentemente, desgastaram os materiais. Primeiro foi uma telha e a seguir outra e outra até não haver mais; depois foi a porta e a janela até ficarem quatro paredes nuas. As silvas treparam pela porta e pela janela e lá dentro nasceu uma figueira; sabugueiros cresceram acima das paredes e de forma tão perfeita se combinaram que quando se desdobram em flores a casa se transforma num arranjo floral. Um arranjo floral triste. Pela casa, pelas casas, pelas ruas, pelos largos, pela ribeira, pelos caminhos, pelos campos, pelos gados, pelas gentes, por aí passa o conto das nossas vidas. As vidas da minha gente.
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