
Ao ler este texto do amigo Alberto, que na Vila passou alguns dias, puxou as minhas memórias de infância. Tão parecidas!
«Crescíamos a olhos vistos e o mundo em torno de nós diminuía de dia para dia. Todas as coisas consideradas difíceis de obter, de repente desabavam a nossos pés e ofereciam-se.
Mas rápido tudo se nos quebrava nas mãos, e cada dia, de prova em prova, teima-que-teima, inexperientes, violávamos as esperanças tapadas e fugidias dos nossos recantos secretos. Saldões tímidos, vorazes e avessos nada nem ninguém nos segurava. A vida era, tão-somente, um extenso campo de jogos. Quem é que nos levava a palma, no pino do verão, quando saltávamos nus, à pai Adão, na laje do açudes sobre o riacho junto do moinho do Milagre, onde a maioria da malta se metia a nadar no baixinho e os mais afoitos no “poço” de águas escuras povoado de trutas, sob os olhares curiosos das nossas pequenas admiradores sentadas na borda da carcomida ponte de pau, lembras- te, Alberto?
Para lá do material a muralha que nos separava do segredo das coisas a vida era decerto outra; e, talvez (quem sabe?), Mais simples. O tempo, só o tempo, nos haveria de fazer crescer… Todos os dias-recordo-estalavam palavras novas, ideias padrões e as casas aglomeradas do nosso pequeno burgo (que o tempo memorizou mais do que os milheirais saturados de água e do que os campos arados onde é zero velas a vidas procurado minhocas e outra bicharada), casario cimentado com as nossas invisíveis incógnitas. A nossa vida era ainda ensaio, ânsia de experiência…
(…)
“Mas vivíamos sem problemas mentais na liberdade do doce invento de sermos nós próprios. Vivíamos e éramos felizes!… Bons tempos!»