O livro de assentos de António Gata é um manancial de informação a partir da qual, com paciência e trabalho, seria possível reconstruir o quadro físico e social da Vila dos anos 30. A terra é, quase, a fonte exclusiva donde vem o sustento para as gentes que tem que sustentar. Por isso, é preciso aproveitá-la ao máximo. Cada chanca de terra é preciosa. É preciso torná-la o mais produtiva possível abarbeitando-a, estrumando-a, regando-a. Por isso, se constroem muros para suster as terras, para as proteger da voracidade das cabras e outro gado; por isso se estoiram lages e barrocos para tornar veiga a tapada ou o cabeço; por isso se fazem poços, minas, presas, se doma o rio em margens confinadas por muros, se erguem os passeios para os burros passeando em círculo arruparem água para as regadeiras talhadas em granito; A pedra omnipresente desafiando a capacidade dos homens. Pedra dura que gasta e desgasta o homem que só com ferro e fogo a consegue vencer. Por isso, estamos numa terra de ferreiros que calçam os animais, ferram os rodados dos carros, protegem os tamacos da frági madeira de amieiro, aguçam as relhas dos lavradores, afiam os ponteiros e picos dos pedreiros. Nada se faria sem a forja do ferreiro. É ali que o homem se afirma sobre a natureza, é ali que no malhar do ferro quente se fazem as armas e as ferramentas.
Das vendas feitas no comércio de António Gata, o ferro, em diferentes modalidades (ferro sueco, aço, arame, vargalhão, verguinha ...) o cupa um lugar de destaque.
Nada disso poderia ser feito sem a esperança de um mundo melhor que poderá ser a fé no mundo que há-de vir. Mas enquanto não chega há que suportar este vale de lágrimas e o vinho era o único produto do homem que estava à altura. Por isso, aquele que pode trata de arranjar uma latada no quintal, uma ramada à porta de casa, ou transformar um monte em vinha, se para tal tiver o poder.
E olhando para uma das páginas que vimos a seguir surprende-nos a venda de dois produtos: rastilho e vinho. Trata-se de Clemência Cardozo (1881-1967), na data dos factos que mencionamos, isto é, 1930, uma senhora com 51 anos, provavelmente viúva. O seu pai não consta do registo de baptismo por se tratar de um conhecido adre de uma terra vizinha. Era uma adorável senhora na sua velhice a casa de quem ia, no tempo das milagradas (romãs), trocar batatas, que discretamente tirava da tulha dos meus pais, por aquela deliciosa fruta.
Estamos, então, em Outubro de 1930 e a senhora Clemência, resolveu transformar em realidade o sonho que seu marido Bernardo Simões não tivera tempo de realizar: plantar uma vinha ou, talvez, mais uma vinha. E, então, de Outubro a Dezembro, gasta a senhora a quantia de 63$60 em rastilho. Continua o gasto do mesmo produto em Janeiro e Fevereiro de 1931 com a importância de 26$40. Claro que se comprava rastilho também comprava pólvora. Ora, aí está um produto que nunca aparece registado no livro, ou porque efetivamente o não tivesse, ou por questões legais não fosse registado. E a ferro e fogo, surribando, arroteando o terreno ficou preparado para o plantio. É assim que no último de Fevereiro aparece o registo da compra de bacelos no valor de 150$00. No mesmo dia e pela primeira vez o registo de uma compra de meio cântaro de vinho, no valor de 7$50. Certamente, tinha produção de vinho que com os muitos trabalhadores que trazia terá terminado. Assim aparece um mês de Maio em que apeanas háa registos de compra de vinho, cerca de 75 litros num valor de 81$20.
Havia boas razões para investir no plantio da vinha: Era a cultura que mais salários dava a ganhar (em épocas do ano em que a oferta de trabalho era mais escassa), nunca era suficiente, dava lucro a quem o cultivava e a quem o vendia e consolava quem o consumia.
Veio a CEE com as uas políticas agrárias e mudou a paisagem. Premiou-se o arranque das vinhas. O ferro emigrou para Champigny mudado em pá e pioche. O fogo domesticado da forja do ferreiro desaparecu e ficou à solta o fogo selvagem que reduziu tudo a cinzas.
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