A questão demográfica é a questão fundamental. Quando nasci (1951) havia 767 habitantes e a pirâmide demográfica apresentava-se como é normal apresentarem-se estas figuras, com uma base larga e sólida. Hoje mais do que invertida, mais do que ridícula é um prenúncio de morte. E, como dizia, Edgar Morin «para o sol e para a morte ninguém olha de frente». Inquieta-me a proximidade da morte desta comunidade de que faço parte.
Hoje tem de moradores permanentes cerca de 60 habitantes. Conheço-os a todos e aos seus familiares, a maior parte deles já falecidos. No meu blog – Vilar Maior, minha terra minha gente - lembro cada um que morre e, involuntariamente, quase se torna uma espécie de Liber Mortuorum. Há cerca de dez anos que não há nascimentos. Alguns dos habitantes nunca saíram de cá, alguns nunca foram mais longe que à sede de concelho; parte deles foram a França e regressaram; uma boa parte deles vive só. Reúnem-se na igreja aos domingos à missa, quando a há; e no café o outro centro de sociabilidade, onde são mais os de fora do que os de cá.
A década de cinquenta é um espaço de tempo muito crítico: acabara a exploração do minério – volfrâmio – e com ele o desafogo de vidas apertadas, mas foi sol de pouca dura. As terras ficavam exaustas com produções insuficientes, a propriedade da terra mal distribuída obrigando os pobres ao pagamento de rendas em dinheiro ou em géneros (as meias ou as terças); os homens ganhavam um jornal (dia de trabalho de sol a sol) de vinte escudos e as mulheres dez escudos. Os lavradores mal remediados iam ganhando uma ou outra jeira no valor de 70 escudos. Para saber do custo de vida bastará dizer que um pão de centeio importava em oito escudos comprado na ti Zabel do Alípio, a padeira.
Em 1960 já eu conhecia toda a gente que ali vivia. A situação era tão insuportável que, aberta a brecha para França poucos haviam de ficar. Foi o êxodo.
Primeiro os homens, a seguir as mulheres e os filhos. Homens de cinquenta e sessenta anos, rapazes que assim se livravam da tropa e da ida para a guerra do ultramar, miúdos de catorze ou quinze anos, pedreiros, carpinteiros e de outros ofícios, pastores, cavadores, lavradores e, até polícias e guardas fiscais e republicanos aprenderam a trabalhar ‘com pá e pioche’, a abrir os caboucos de uma Europa saída da guerra. Cada um com uma história mais ou menos trágica da passagem ‘a salto’ para a terra prometida.
Retrato da situação demográfica na primavera de 2024
População residente | 59 |
Sexo Masculino | 35 |
Sexo Feminino | 24 |
Casais | 14 |
Viúvas | 7 |
Viúvos | 0 |
Solteiras | 9 |
Solteiros | 8 |
Casais abaixo dos 60 anos | 2 |
Estudantes (3 no ensino básico e 1 no ensino superior) | 4 |
A viver sós | 12 |
Foram emigrantes | 20 |
Nunca saíram de VM | 5 |
Fogos habitados | 32 |
Perante esta paisagem humana, poderemos falar de neo-rurais?
A mudança populacional está ligada à mudança da paisagem natural. Deixou de haver agricultores e pastores, deixou de haver agricultura (centeio, batata, vinho e linho para referir as principais) e pastorícia (gado ovino e caprino). Hoje, à semelhança do resto do concelho a economia baseia- se em duas atividades: a criação de vacas para produção de carne e a assistência à terceira idade com Lares e, no caso de Vilar Maior o Centro de Dia que confeciona refeições e presta alguns cuidados de higiene.
Não há, propriamente, agricultura. Os poucos que fazem horticultura não são propriamente neo-rurais, pois, fazem o que fizeram antes de partir, agora, não por necessidade, mas por prazer. Não é para eles um projeto nem constitui uma nova forma de relacionamento com a natureza.Os habitantes distribuem-se desigualmente pelo aglomerado. O Cimo da Vila (a antiga cidadela amuralhada) que começa no Arco com origem no cume da colina onde se ergueram as muralhas a que se adoçou uma torre – o castelo - foi a parte mais povoada tem hoje a maior parte do casario em ruínas e está praticamente despovoado.
A parte de baixo tem a maioria das casas desabitadas, mas têm sido restauradas e conservadas e muitas delas são utilizadas partes do ano, sobretudo no verão pelos seus proprietários.
E que Deus me perdoe a distração, pois, durante a missa fui tirando o retrato à população, num domingo de fevereiro de 2016.
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