Hoje, quinta-feira da Semana Santa, dia 14 abril, manhã de nevoeiro denso, desci o caminho da Fonte Velha, virei parao caminho das Entrevinhas no termo do qual à esquerda se encontra a imagem refrente ao lugar a visitar. Talvez o que neste outdoor se mostra possa ser o princípio de um novo tempo para esta região. O Vale Carapito, qual pequena mesopotâmia, é um espaço que fica entre o rio Cesarão e a Ribeira de Alfaiates no fim do qual se abraçam e juntos se lançam ao rio Côa. Aqui, em baixo, rodeado de frescos lameiros, bordejados de freixos, tem como fundo sonoro a voz do Cesarão à qual se juntam as vozes dominantes do cuco e da pôpa e mais uma infinidade de clhilreares. E logo me dou conta que entro num território diferente onde a natureza protegida se mostra a quem ousar nela reparar. Uma imensidade de teias como roupa a corar pelo chão, pousadas nas giestas de maia branca e intenso odor, nos bracejos - teias feitas na noite para se desfazerem de dia e voltarema fazer-se quando a noite chegar.À medida que fomos subindo do caminho até o ponto mais alto foi-se dissipando o nevoiro e acentuou- se a aragem fria da Primavera
Caminhando em direção a sudoeste fomos depois descendo para a ribeira de Alfaiates cavada lá no fundo. No cimo do monte, llagedos enormes pregados ao chão e, junto ao rio, grandes blocos verticais . Algumas partes do leito atulhado de enormes pedregulhos soltos, num trabalho feito à pressa, contrastam com a ordem escultural firme que a paciência do tempo gerou, com bacias enormes escavadas pelo redemoinho de águas e areias. Esta é a ordem do reino mineral. No reino vegetal, mais efémero, temos os amieiros e salgueiros no rio, os freixos em sítio mais enxuto mas com água abundante e para cima os carvalhos e o crescimento rápido e recente das azinheiras. De arbustos, para além da giesta dominante, há , cada vez mais raras, as gilbardeiras ( aquele arbusto que servia para limpar as chaminés, para afastar os ratos, para varrer e para fazer os cabos das nossas canetas de aparo que molhávamos no tinteiro).
A gilbardeira, o trovisco as roseiras de Santa Teresinha. Muito bracejo.
Um conselho - Não vá só! Ousei descer ao Insumidoiro, esse lugar mágico onde o rio desaparece por baixo de enormes penedias. Escarpa abrupta, rochas escorregadias, galhos secos, arbustos ocultando o chão são armadilhas, onde um pé em falso pode dar para o torto. Olho o telefone, nem sinal de rede! Há que subir - de gatas, de joelhos, de modo seguro, demore o que demorar. Finalmente, começam a aparecer os cagalhões dos sorraias - os cavalos - que não vi.
Caminho até ao cume do monte, agora em direção a Nascente com o sol a bater-me nos olhos. Uma águia rasga os céus, grasnando para aoutra que a seguia, a caminho de Badamalos.
De regresso, com o castelo lá no alto, subo as Escaleirinhas com o basófias do Cesarão
de voz grossa no inverno e sem pio no verão
É assim! Quem me quiser ver morto, tire-me a natureza. Ou o castelo!