(Texto de 2004, do blog Pitagórico antes do nascimento do Vilar Maior, minha terra, minha gente)
Mais uma vez me pus a caminho pelo IP5 que por Albergaria nos leva à raia. Chegados a Vilar Formoso, vira-se a Sul, passas-se por Nave de Haver, ao lado das Batocas e depois de virar à direita passa-se por Aldeia da Ribeira e chega-se a Vilar Maior. Com esta viagem não nos deslocamos apenas no espaço: mergulhámos no Portugal interior, profundo, no antes de D. Dinis: as pessoas velhas que por lá moram e os mais novos que por lá vão, vêm do princípio dos tempos, basta olhar-lhes atentamente as feições. Entramos ali como se fizessemos um parentese na História - estão ali os personagens todos no presente que são e no passado que se lhe conhece. Eu olho-os e falo com eles e pergunto-lhes pelos parentes e ficam satisfeitos por dizerem e eu por ouvir. Contam-me histórias, repetidas todas em todos os encontros que já tivemos e voltá-las-ão a repetir eu sei lá quantas vezes. Histórias onde não há ficção: as pessoas são reais, os burros, as vacas e as cabras são reais, os lugares são reais. E eles pensam que eu ao ouvi-los sou tão real como eles a contá-las. Esquecia-me de dizer que a viagem é para assistir à festa. Festas há muitas mas esta é a festa. Aos de fora ( coitados não são de cá, são de terra alheia, infelizes que nem sabem quanto perdem) tenho de lhes dizer que é a festa do Sr dos Aflitos que todos conhecem e a quem todos rezam. Ele é ainda mais real do que tudo quanto dissemos ser real. Todos sabemos a sua casa e todos somos dele testemunhas. O senhor padre pregador pode falar de Deus pai, de Deus Espírito Santo, de nossa senhora e dos Santos mas existir realmente, existe o senhor dos Aflitos: Eu próprio sou testemunha anual: Finda a devota procissão tudo se conjuga para atingir o clímax da realidade: O adeus ao Senhor - o pregador mais pelo tom da voz que pelo conteúdo, o dolente hino cantado e acompanhado pela filarmónica, o abanar dos lenços, soluços abafados, lagrimas vertidas umas e contidas outras, e o recolher do senhor ao som portentoso de morteiros. E as almas contritas - as que deram graças, as que imploraram, as que aliviaram a dor - retornam aos corpos que enformam para os conduzirem aos cuidados mundanais e ao prazer do jantar da festa.
Depois é o caminho inverso pelo IP5, para um mundo bem menos real.
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